Essas cenas, tiradas de um livro de memórias chamado Unforgettable Fire (Fogo Inesquecível), inclui este relato feito por Kikuna Segawa:
Uma mulher, que parecia grávida, jazia morta. Ao seu lado estava uma menina de uns três anos de idade que havia trazido um pouco de água numa lata vazia que encontrara. Ela tentava dar de beber a sua mãe.
Dentro de meia hora, à medida que se erguia no céu o manto de escuridão, irrompeu a onda de incêndios. O professor Takenaka tentava resgatar sua esposa de debaixo de uma viga de telhado. As chamas o afastavam, enquanto ela implorava: “Fuja, querido!” Foi uma cena que se repetiu por incontáveis vezes, à medida que maridos, esposas, filhos, amigos e estranhos tinham de abandonar os que estavam morrendo nos incêndios.
Uma hora após a explosão começou a cair uma “chuva negra” sobre as partes da cidade que ficavam a favor do vento. A precipitação radioativa continuou até o cair da tarde. A inteira conflagração de fumaças e de fogo foi sacudida por um estranho e violento tufão que durou várias horas. Desordenadas procissões de queimados e feridos começaram então a emergir da onda de incêndios. Robert Jay Lifton cita um comerciante de secos e molhados no seu livro Death in Life (Morte em Vida): “Mantinham os braços dobrados . . . e a pele deles — não apenas das mãos mas também do rosto e do corpo — estava pendurada. . . . Muitos deles morreram ao longo do caminho. Ainda posso visualizá-los — pareciam fantasmas caminhantes. Não pareciam ser pessoas deste mundo.”
Alguns vomitavam — um sintoma primário de doença radioativa. O colapso físico acompanhava o colapso emocional e espiritual. As pessoas sofriam e morriam, estupefatas e inertes, sem emitir um som sequer. “Os que tinham condições perambulavam silenciosamente pelos subúrbios nas colinas distantes, de espírito abatido, sem iniciativa”, escreveu o dr. Nichikhito Hachiya em seu Hiroshima Diary (Diário de Hiroxima).
Dentro de três meses o número de mortos em resultado da bomba de Hiroxima chegava calculadamente a 130.000. Mas, a cobrança do tributo final continua a se arrastar. Semanas após o bombardeio números incontáveis de sobreviventes começaram a apresentar hemorragias na pele. Esses primeiros sinais, acompanhados de vômitos, febre e sede, podiam ser seguidos por um esperançoso, mas enganador, período de abrandamento. Mais cedo ou mais tarde, porém, a radiação atacava as células reprodutivas, especialmente a medula óssea. Os estágios finais — a queda de cabelo, a diarréia e a hemorragia dos intestinos, da boca e de outras partes do corpo — provocavam a morte.
Uma ampla série de doenças se desenvolveram da exposição à radiação. Os processos reprodutivos foram alterados. Defeitos congênitos, cataratas, leucemia e outras formas de câncer caracterizaram a sorte dos expostos à bomba de Hiroxima. Calcula-se que 300.000 pessoas tenham morrido.
Ao passo que o lema “Lembre-se de Pearl Harbor!” traz amargas recordações para alguns americanos, os japoneses relembram seus padecimentos com o brado “Hiroxima Nunca Mais!”. As bombas atômicas que explodiram sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki, em agosto de 1945, tiveram um efeito traumático não só sobre as vítimas diretas, mas também sobre a nação como um todo.
Explicando os motivos de se ter empregado a arma de destruição em massa, diz The Encyclopedia Americana (Enciclopédia Americana): “Ele [Harry S. Truman] decidiu usar bombas atômicas contra o Japão, acreditando que elas acabariam mais rapidamente com a guerra e salvariam muitas vidas.” Embora não seja insensível aos sentimentos das vítimas da bomba-A, Kenkichi Tomioka, um jornalista japonês que escreveu sobre as caóticas condições do após-guerra, admite: “Rememorando o período entre março/abril e agosto de 1945, quando as operações para pôr fim à guerra atingiram um clímax, pondo em perigo o destino desta nação, não podemos ignorar o papel desempenhado pelas duas doses de medicina corretiva [bombas atômicas], específicas para esfriar cabeças quentes, que foram administradas aos militaristas que clamavam por um confronto final para defender a terra natal. Um confronto final teria significado o gyokusai (antes morrer do que render-se) dos 100 milhões de habitantes.”
Todavia, aqueles que perderam entes queridos nos bombardeios atômicos e aqueles que sofrem de enfermidades causadas pela radiação verificam que sua dor não pode ser amainada por palavras que justifiquem o lançamento das pikadon, ou “fulgor e explosão”, como os sobreviventes chamaram as bombas-A. Embora alguns sobreviventes das bombas-A há muito se encarem como vítimas inocentes, eles agora compreendem que, como japoneses, têm de admitir, como o Professor Iwamatsu passou a dizer, os “crimes que cometeram em sua agressão a outros países na região da Ásia-Pacífico”. Em 1990, uma vítima da bomba pediu desculpas pelos crimes de guerra do Japão, diante das delegações estrangeiras, durante as manifestações anuais contra a bomba, realizadas em Hiroxima.
Forte repulsa pela guerra paira no coração de muitos sobreviventes e testemunhas oculares de Pearl Harbor, Hiroxima e Nagasaki. Rememorando, alguns questionam se seus países tinham motivos válidos para exigir o sacrifício de seus entes queridos.
Para instilar o fervor pela guerra e justificar a matança, ambos os lados lançaram também ataques verbais. Os americanos chamaram os japoneses de “japs ardilosos”, e acharam fácil atiçar as chamas do ódio e da vingança com as palavras “Lembre-se de Pearl Harbor!”. No Japão, ensinou-se às pessoas que os anglo-americanos eram kichiku, que significa “bestas demoníacas”. Muitos em Okinawa foram até mesmo levados a cometer suicídio, em vez de caírem nas mãos das “bestas”. Similarmente, depois da rendição dos japoneses, quando as forças invasoras americanas desembarcaram num porto próximo, o comandante deu à jovem Itoko duas doses do venenoso cianureto de potássio. “Não seja um brinquedo nas mãos dos soldados estrangeiros”, ordenou ele.
No entanto, por meio de amigos nipo-havaianos, Itoko gradualmente ampliou seus conceitos e veio a compreender que tanto americanos como ingleses podem ser amigáveis, gentis e bondosos. Ela conheceu George, um irlandês nascido em Singapura, cujo pai foi morto pelos japoneses. Vieram a conhecer-se bem e se casaram. Constituem apenas um exemplo dos muitos indivíduos que verificaram que seus ex-inimigos são pessoas amigáveis. Se todos eles tivessem encarado seus “inimigos”, não por lentes distorcidas pela guerra, mas por seus próprios olhos desprovidos de preconceitos, poderiam tê-los coberto de amor, em vez de bombas.
Sim, a paz entre indivíduos, baseada no entendimento mútuo, é essencial para a paz mundial. Mas em vista das dezenas de guerras travadas desde 1945, é evidente que os homens não aprenderam esta lição básica de Pearl Harbor e de Hiroxima.
A paz mundial será alcançada algum dia? Saiba a resposta.Lugares para ver.
Hiroshima renasceu das cinzas. com um programa de reconstrução iniciado a partir de 1950, Hiroshima se tornou uma cidade moderna, que nada lembra a destruição do passado.
CÚPULA DA BOMBA ATÔMICA. É uma construção completamente devastada. A parte de cimento foi queimada e, em alguns pontos, derretida, deixando o esqueleto da estrutura de aço exposto contra o céu. A cápula está situada em Otemachi, perto do lado leste da Ponte Aioi, que foi aproximadamente o epicentro da explosão atômica do dia 6 de agosto de 1945. É o único edifício atingido pela bomba atômica ainda de pé.
Cenotáfio das Vítimas da Bomba Atômica. No interior desse imenso mausoléu, há um cofre de pedra contendo os nomes das vítimas da bomba atômica. À frente do cofre há um epitáfio inscrito em japonês, que significa "Repousai em paz, pois o erro não será repetido".
Museu memorial da paz.CASTELO HIROSHIMA. Também chamado de "Rijo" (Castelo de Carpa). Foi concluído em 1589 por um senhor feudal local. Serviu como residência da família Asano por mais de 250 anos até a Restauração Meiji em 1868. O interior de sua torre de cinco andares, reconstruído em seu estilo original, é usado como um museu, mas o castelo e suas imediações funcionam agora como um parque público. Do topo do castelo, os visitantes têm uma linda vista do porto de Hiroshima e da Ilha de Miyajima na Baía de Hiroshima, bem como um panorama de toda a cidade.
PARQUE HIJIYAMA. Está situado em uma pequena colina na parte leste da cidade. Pode-se subir até o topo, de carro. Daí, o visitante contempla o cenário da maior parte da cidade, inclusive do Boulevard da Paz. O Laboratório da Comissão do Sinistro da Bomba Atômica, com seu imenso telhado semi-cilíndrico, está localizado atrás da colina. A encosta da colina é coberta de cerejeiras, tornando o lugar um ponto turístico muito popular na cidade, especialmente quando as cerejeiras estão floridas.
JARDIM SHUKKEIEN. Foi originalmente planejado em 1620 por Nagaakira Asano, um senhor feudal que governava o distrito naquela época. Assumindo sua presente forma tempos depois, o jardim cobre uma área de 4 hectares e está registrado como um "Lugar Cênico". Está situado às margens do Rio Kobashi, do qual se retira água para formar regatos e pequenos lagos dentro do jardim. As ilhotas, as pontes e as muitas árvores que cercam o jardim dão-lhe uma beleza toda especial.
MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA CIDADE DE HIROSHIMA. Localizado no recinto do Parque Hijiyama. O museu mostra trabalhos de arte contemporânea criados após a II Guerra Mundial.
MUSEU DE ARTE DE HIROSHIMA. Exibe principalmente artes modernas européias, incluindo Impressionismo do começo do século 19 até os dias atuais.
PARQUE MEMORIAL DA PAZ. Foi criado depois da Segunda Guerra Mundial e está localizado no extremo norte do delta do Rio Ota. O parque contém o Hall Memorial da Paz, construção de estilo moderno, o Museu Memorial da Paz, o Cenotáfio das Vítimas da Bomba Atômica e o Auditório Municipal.
KINTAI BRIDGE. Foi construído originalmente em 1673 por Hiroyoshi Kikkawa, um lorde feudal da região, com o propósito de proteger os moradores contra enchentes do Rio Nishiki. A ponte tem 193 metros de comprimento, 5 metros de largura e 12 metros de altura desde a água até o ponto mais alto da ponte. Para construir a ponte, não foram utilizadas pregos, em vez disso, utilizaram alguns grampos e arames onde empregaram como fechos. Durante os 3 meses de Junho a Agosto, são realizadas demonstrações de Pescaria com Cormorão debaixo desta ponte.
"Não se evita a guerra preparando a guerra. Não se obtém a paz senão aparelhando a paz." (Rui Barbosa)